ATENÇÃO! Este é um texto
baseado em pesquisa bibliográfica e não se destina à informação de pais ou
pessoas com Doenças Neuromusculares, trata-se de um relato técnico voltado para
estudantes e profissionais da área da saúde.
DOENÇAS
NEUROMUSCULARES (DNM) E INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA
Nas
DNM, a perda progressiva da força dos músculos inspiratórios gera
um distúrbio ventilatório do tipo restritivo. A insuficiência
respiratória nestes pacientes é decorrente de um processo onde a
fraqueza da musculatura respiratória leva a alteração na mecânica
respiratória seguida de episódios de hipoventilação alveolar. Em
decorrência deste processo, instala-se um quadro caracterizado por
hipercapnia crônica e hipoxemia secundária à elevação da pressão
parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2).
FUNDAMENTOS
TEÓRICOS PARA O EMPILHAMENTO DE AR
Profissionais
de saúde que lidam com pacientes com DNM devem ter uma visão
abrangente sobre os eventos que contribuem para a instalação da
insuficiência respiratória.
Ao
longo do curso da doença, ocorre uma deteriorização progressiva da
força muscular inspiratória a qual reduz gradativamente a
capacidade dos pacientes de realizar inspirações profundas. Mesmo
com o com o uso da inspirometria de incentivo, chega um momento no
qual os pacientes não conseguem mais expandir os pulmões até a
Capacidade Vital.
Aí
você deve estar se perguntando: o que tem de tão especial na
Capacidade Vital para ela merecer ser citada agora? Ora, a Capacidade
Vital é o volume de ar que os nossos pulmões podem expelir, logo
após uma inspiração profunda máxima. Tecnicamente falando
compreende a soma de volume corrente, volume de reserva inspiratório
e o expiratório (você pode relembrar os volumes e capacidades pulmonares clicando AQUI ou dando uma espiada na figura abaixo). A capacidade de expandir os pulmões até a
Capacidade Vital é importantíssima para a manutenção de algumas
das propriedades mecânicas da caixa torácica e dos pulmões. Assim
como as demais articulações do corpo, as articulações costais
também precisam exercer sua Amplitude de
Movimento sob pena de desenvolverem restrições articulares.
Igualmente, o parênquima pulmonar também se beneficia de movimentos
amplos e frequentes para manter sua elasticidade.
TÉCNICA
DE EMPILHAMENTO DE AR (AIR-STACKING)Em
paciente com Doenças Neuromusculares, as inspirações profundas
necessárias para manter as propriedades mecânicas do pulmão e
gradil costal só podem ser alcançadas por insuflações profundas
via auxílio externo (empilhamento de ar, ventilação não invasiva
noturna) ou via respiração glossofaríngea.
Com
estas insuflações máximas espera-se alcançar os seguintes
objetivos: Maximizar a Capacidade Residual Funcional, manter ou
aumentar a complascência pulmonar e prevenir ou reverter
atelectasias.
A
técnica de empilhamento de ar consiste na realização de acúmulos
de insuflações (de 2 a 4 insuflações), através de uma máscara
oronasal ou bucal conectado a um ressuscitador manual (AMBU) mantendo
o volume por 6 segundos com a glote fechada e expirando
posteriormente. Uma manobra consiste de três insuflações, sendo
que o paciente deve realizar dez manobras, 3 vezes ao dia.
Com
esta manobra, atinge-se a capacidade de insuflação máxima, (o
maior volume de ar sustentado pelo paciente com a glote fechada).
Este empilhamento pode ser realizado com auxílio de AMBU, de
ventiladores, ou através da respiração glossofaríngea, e deve-se
iniciar a técnica de empilhamanto de ar quando a Capacidade Vital se
encontrar abaixo de 70% do previsto. Apesar da doença neuromuscular
ter caráter progressivo, com o treino diário é possível melhorar
a capacidade de insuflação máxima, resultando em uma maior
efetividade da tosse após a manobra.
…
E POR FALAR EM TOSSE
ASSISTIDA
A
tosse é um reflexo de proteção essencial que remove corpos
estranhos e o excesso de secreções das vias aéreas, prevenindo
doenças pulmonares como pneumonia, atelectasia e falência
respiratória. A tosse normal é um processo de três etapas: (1)
fase inspiratória; (2) fase de compressão; e (3) fase expulsiva. Em
pacientes com doença neuromuscular, não só os músculos
inspiratórios estão muito fracos para realizar uma inspiração
profunda, mas também os músculos expiratórios podem não gerar
força suficiente contra uma glote fechada para criar um fluxo de ar
que seja funcional. Portanto, para assistir a tosse, são necessários
métodos que auxiliem os músculos expiratórios a gerar altas
pressões intratorácicas, tais como a compressão toracoabdominal.
Movimento
abdominal paradoxal para fora pode ocorrer durante a tosse em
indivíduos com fraqueza neuromuscular , e este movimento paradoxal
contribui para a ineficiência da tosse. A redução deste movimento
paradoxal tanto pela compressão manual do tórax inferior e abdomen
quanto pelo apoio abdominal podem aumentar a eficiência da tosse. A
manobra de tosse assistida manualmente é uma importante ferramenta
para os fisioterapeutas que trabalham com pacientes com doenças
neuromusculares. A manobra consiste na aplicação de pressão com
ambas as mãos sobre o abdomen superior seguindo de um esforço
inspiratório e fechamento da glote. Foi demonstrado em estudos não
controlados que esta manobra foi capaz de melhorar o pico de fluxo de
tosse expiratório entre 14% e 100%. Uma desvantagem da manobra de
tosse assistida é que ela precisa da presença de um cuidador.
O
volume pré-tosse tem grande influência na efetividade da tosse em
pacientes com doença neuromuscular. Como dito anteriormente, a perda
da capacidade de realizar inspirações profundas diminui as
propriedades elásticas dos pulmões, aumentando o trabalho
respiratório e predispondo à atelectasia. Em fases adiantadas, a
Capacidade Vital do portador de doença neuromuscular é próxima do
volume de fechamento das unidades alveolares.
Dá uma olhada no video abaixo que demonstra a técnica. É muito interessante ver a diferença no volume da tosse antes e depois.
A manobra de empilhamento de ar também aumentam a efetividade da tosse pois o volume de ar acumulado nos pulmões na fase inspiratória da tosse optimiza a relação comprimento tensão dos músculos expiratórios e aumenta a pressão de recuo elástico do pulmão.
A manobra de empilhamento de ar também aumentam a efetividade da tosse pois o volume de ar acumulado nos pulmões na fase inspiratória da tosse optimiza a relação comprimento tensão dos músculos expiratórios e aumenta a pressão de recuo elástico do pulmão.
Em
um trabalho não controlado,pacientes com fraqueza muscular que
aumentaram o volume inalado antes de tossir por meio de empilhamento
de ar utilizando pressão positiva ou por respiração glossofaríngea
foram capazes de aumentar o fluxo expiratório da tosse em 80%.
Em
um estudo de coorte retrospectiva, pacientes com doença
neuromuscular que tiveram mais de um episódio de falência
respiratória, ou aqueles cujo peak flow foi menor que 270L/min, e
que utilizaram um protocolo de ventilação intermitente por pressão
positiva e tosse assistida mecânica e manualmente, tiveram menos
internações hospitalares devido a complicações respiratórias
após o protocolo do que antes da intervenção ser instituída.
Achados similares foram observados em coortes de criaqnçlqas com
doenças neuromusculares.
É
importante ressaltar que as técnicas manuais de assistência à
tosse estão sujeitas a diversos problemas, tais como incoordenação
entre o paciente e o operador, vazamento de ar pela máscara, além
de força e método de compressão torácica inadequados. Daí a
importância dos pacientes e dos cuidadores receberem treinamento
detalhado e simples, de forma que sejam aptos a realizar essas
manobras independentemente de profissionais de saúde.
REFERÊNCIAS: