Durante o inverno, o aumento de lesões nos músculos e articulações é bastante frequente, pois muitas pessoas resolvem começar (ou intensificar) seus treinamentos para chegar ao verão com o corpo esbelto. Porém, a atividade física aliada às súbitas mudanças de temperatura e à preparação inadequada pode trazer aquelas dores chatas, que incomodam, principalmente durante o frio. Mas, em vez de recorrer a um médico, muitos preferem buscar na farmácia a solução para o desconforto. Por vezes, a alternativa mais corriqueira é a aquisição de acessórios tensores disponíveis para coxas, joelhos, punhos, tornozelos e outras partes do corpo. Feitos de elástico ou borracha (como Neoprene), estes equipamentos prometem acabar com o incômodo, prevenir o agravamento ou ainda a ocorrência de novas lesões. Porém, é exatamente no uso por conta própria que mora o perigo.
Muita gente usa o acessório não só nas horas de repouso, mas também na hora do treino. Para o ortopedista Fabio Ravaglia, presidente do Instituto de Ortopedia e Saúde, a utilização durante a prática esportiva é perigosa, pois pode ocasionar problemas nas articulações, a constrição dos vasos sanguíneos, que é a inibição da circulação, além de inchaço nos tornozelos, edemas, atrofia e até mesmo trombose, em casos mais avançados.
Como funcionamA principal finalidade dos acessórios é proteger as articulações e os músculos. De acordo com os fabricantes, sua utilização é indicada para uso ortopédico ou para a prática esportiva, auxiliando na recuperação de lesões por meio da compressão e retenção do calor corporal. No entanto, esta indicação só pode ser feita por um profissional, pois seu uso inadequado pode ser determinante para o agravamento de uma lesão, podendo até virar um caso cirúrgico.
Uma das grandes armadilhas dos protetores é justamente a sensação de segurança que provocam. Por serem feitos de tecidos elásticos, eles comprimem os vasos sanguíneos e dificultam a irrigação nas articulações, afetando as noções de força, equilíbrio e espaço do corpo. Dessa forma, o sujeito fica muito mais suscetível a tombos e torções.
O segundo perigo é o risco de uma nova lesão. "O acessório tira a sensibilidade do local lesionado, o que gera a falsa sensação ao corpo de que o problema não existe mais. Quando a utilização do acessório é suspensa, qualquer movimento pode causar o retorno ou ainda o agravamento da lesão", explica o fisiologista do exercício Paulo Correia, da Unifesp.
Evite a automedicaçãoClinicamente estes acessórios não são feitos exclusivamente para a atividade física, mas sim como tratamentos recomendados e acompanhados por profissionais da saúde ou esportivos. A utilização de joelheiras, tornozeleiras e munhequeiras deve ser preventiva e sempre sob orientação médica, a fim de evitar a piora do quadro.
É o especialista que vai dizer ao paciente o momento certo de usar o acessório e as situações em que seu uso é dispensável. "Munhequeiras, por exemplo, nunca devem ser usadas, durante a digitação ou atividade esportiva, pois prendem a circulação. Já os imobilizadores de punho, apenas devem ser usados em casos extremamente agudos e nunca durante a digitação, pois isto causaria o agravamento da lesão", afirma Fabio Ravaglia.
Não fuja do consultórioO acessório não é capaz de curar a causa da dor, por isso é importante buscar um profissional especializado. Um médico deve ser consultado quando as lesões causarem dor intensa, inchaço, edema ou perda total da sensibilidade. Pode até ser que você saia do consultório com a prescrição do tal acessório, mas aí não tem erro. Segundo Fabio Ravaglia, as indicações são em caso de inflamações, hiperpressão da rótula (no caso do joelho) e possivelmente no pós-operatório, mas sempre sob acompanhamento médico.
As lesões causadas por exercícios podem ser consequência de treinamentos inadequados ou irregulares, preparo físico ruim, fragilidade dos músculos, tendões ou ligamentos ou até mesmo decorrentes de problemas estruturais naturais que podem forçar determinadas partes do corpo. Para preveni-las, a etapa do aquecimento antes de qualquer atividade física é fundamental.
E, lembre-se. A atividade física que causa dor deve ser evitada até que a recuperação seja completa. "O exercício deve ser interrompido, quando existir dor em qualquer parte do corpo, para não provocar mais danos à área afetada", esclarece Fabio Ravaglia.
Perigo à vista
Um fator determinante para a utilização indiscriminada dos acessórios protetores é o fácil acesso que se tem a eles. Estes produtos são geralmente vendidos nas lojas especializadas em artigos esportivos ou até mesmo em lojas de departamentos. Em geral, as embalagens destes produtos alertam, mesmo que em letras miúdas, para alguns cuidados ao usar os acessórios. O problema é que nem sempre quem usa o produto por sua conta e risco segue as orientações da "bula".
Entre as principais recomendações dos fabricantes estão: não apertar demais a região machucada, para não comprometer a circulação sanguínea; não utilizar o acessório durante os momentos de repouso, ou ainda, enquanto a pele estiver lesionada ou ferida e também quanto ao uso pós-cirúrgico, que deve ser realizado apenas sob orientação médica. Outro ponto a ser observado é a possibilidade de manifestação de alergias ou irritação da pele devido às propriedades do material.
Para o fisiologista Paulo Correia, embora sejam basicamente produtos para proteção, não deixam de se tratar de equipamentos ortopédicos e sua comercialização deveria ser controlada ou restrita. "É um equipamento ortopédico, sua venda deveria ser regulada pelo Ministério da Saúde", afirma o especialista.
Fonte: Minhavida.com.br
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