De acordo com o livro Cure sua Coluna (Ed. Best Seller), do reumatologista e fisiatra Arnaldo Libman, cerca de 50% das futuras mamães sentem dores na coluna. E as razões, além das que acometem o grosso da população (sedentarismo e a sobrecarga nesta região do corpo por maus hábitos diários), estão diretamente relacionadas ao novo ser que está sendo gerado. A principal delas é o aumento natural do volume da barriga da mulher, que altera o centro de gravidade do corpo. Para manter o equilíbrio com as novas medidas abdominais que a empurram para a frente, ela acaba jogando os ombros para trás, ficando com aquele andar de "pato" característico.
A carga extra na barriga da gestante puxa os principais pilares da coluna, as vértebras, para a frente, aumentando a lordose (curva normal da espinha). "A reação do organismo para compensar é tentar puxar as vértebras para trás, por meio dos músculos dessa região, o que gera tensão e sobrecarga muscular", explica o fisioterapeuta Semman, listando mais uma causa de dores nas costas durante a gravidez.
As alterações hormonais também influenciam nas lombalgias das grávidas. A presença do hormônio relaxina, que aumenta em até dez vezes durante a gestação, atua nas articulações, relaxando ligamentos e tendões das estruturas ósseas da pelve e da coluna vertebral, para facilitar que a bacia se abra no momento do parto. Com os ligamentos frouxos, há uma sobrecarga na coluna e membros inferiores, ocasionando as tão incômodas dores.
Grupo de risco. Mulheres que engravidam estando acima do peso e as que já têm histórico de problemas nas costas fazem parte do grupo que corre maior risco de sofrer dores durante os meses de formação do bebê. "Boa parte das mulheres com dor na coluna durante a gestação já sentia algo antes", informa o ortopedista da Clínica Lage, Juliano Lhamby, especialista em cirurgia da coluna. Porém, são as sedentárias as mais propensas a enfrentar incômodos nas costas por causa da falta de fortalecimento dos músculos.
Foi o que aconteceu com a infectologista Emy Akiyama Gouveia, de 34 anos, na gestação da pequena Mei, hoje com 4 meses. Com uma rotina intensa de trabalho - muito tempo de pé em enfermarias e dirigindo horas entre sua casa na capital paulista e o hospital no ABC - e sem disposição para se exercitar, a médica padecia há tempos com incômodos no pescoço. "No terceiro mês, a barriga nem tinha aparecido direito e já sentia dores na lombar e na cervical", conta Emy, que fez hidroterapia (fisioterapia dentro d’água) durante toda a gravidez. "O alívio foi extraordinário, essencial para que eu conseguisse trabalhar os nove meses."
O mais indicado é que a mulher procure se condicionar antes da gravidez, com exercícios físicos regulares, supervisionados por profissionais habilitados. Os grupos musculares que mais protegem a coluna são os abdominais: se forem fortalecidos e estiverem resistentes, aliviam a sobrecarga da região lombar. Os músculos das costas e da parte posterior das coxas também devem ser trabalhados. "A grávida tem de fazer atividade física como qualquer pessoa que queira se manter saudável", orienta o ortopedista Lhamby, destacando que é necessário que haja a liberação do ginecologista e a indicação de exercícios adequados à idade e necessidades da paciente.
Atividades na água, como hidroginástica e natação, são muito indicadas para as gestantes, já que, na piscina, o peso de uma pessoa se reduz em aproximadamente 10%. Se a água estiver morna, há ainda o benefício do relaxamento muscular. Ioga, RPG, caminhadas, alongamentos e pilates também são muito indicados. "O pilates é uma técnica com alto índice de segurança, trabalha a flexibilidade, o controle respiratório e postural, o que é muito importante para as gestantes, devido ao aumento da lordose", opina o fisioterapeuta Semman.
Nos casos de dores severas - quando estão presentes várias vezes ao dia, impedem de subir escadas, afetam o nervo ciático, são sentidas ao tossir ou espirrar, ou limitam períodos pequenos de pé ou sentada e caminhadas curtas - só um especialista poderá avaliar o quadro e indicar o tratamento. "Se a paciente tem hérnia de disco, por exemplo, muitas vezes temos de mantê-la meses em repouso, deitada", explica o ortopedista Lhamby. Nessas situações, a falta de atividade promove grande perda muscular, o que eleva a probabilidade de novas dores.
Pós-parto. Posturas erradas ao amamentar, carregar o bebê, tirá-lo do berço, trocar fralda, dar banho, aliadas a pouco repouso e falta de exercícios físicos, também levam a nova mamãe sem dores na gestação a senti-las após o nascimento da criança. Quando a filha Olívia fez 5 meses, o incômodo na lombar apareceu e começou a perturbar a rotina da advogada Juliana Mollet, de 35 anos. Um mês depois, ela já não conseguia segurar a menina por muito tempo e tinha dificuldades para dar banho e amamentar. "Sou alta e tudo para bebê é muito baixo", reclama Juliana.
Nem os anti-inflamatórios e as sessões de musculação indicados pelo ortopedista resolveram. "Sentia muita dor na musculação", conta ela, que já mancava e sofria de dores crônicas. A agonia só acabou com a hidroterapia, realizada com descrença por Juliana, que considerava, erroneamente, a atividade destinada a idosos ou portadores de paralisias. Com receio das dores na gestação do seu filho Benjamin, ela alternou a hidroterapia com aulas de pilates, obtendo excelentes resultados.
CUIDE-SE SEMPRETente não permanecer de pé por muito tempo, mas, se for necessário, procure alternar o peso do corpo nos dois pés, colocando sempre um deles em um plano um pouco mais alto, como algum degrau ou caixa.
E não se esqueça de manter a coluna ereta.
Ficar sentada por longos períodos não é bom. Levante a cada hora para dar uma volta.
Ao sentar-se, as costas precisam estar bem apoiadas no assento e o solado dos pés, em contato com o chão.
Para usuárias de computador: o mouse precisa ficar na altura dos cotovelos dobrados.
Quando estiver muito cansada, eleve as pernas com o auxílio de uma cadeira ou almofada. Isso facilita a circulação sanguínea, um cuidado importante na gestação, já que nesta fase há uma elevação do volume de sangue de 40% a 50%.
Use sapatos de salto baixo e com bom suporte para todo o pé. Saltos altos favorecem a lordose, que, nas grávidas, já está aumentada pelo peso da barriga.
Evite pegar peso. E se tiver de se abaixar para apanhar algo, não dobre a coluna. Flexionar os joelhos é o mais indicado.
Não carregue bolsas muito pesadas. E procure alternar os ombros de sustentação, para não forçar apenas um lado.
Elimine o cigarro totalmente, pois, além do prejuízo à circulação sanguínea, o tabagismo desidrata os discos que ficam entre as vértebras, aumentando as possibilidades de hérnias de disco e de muitas dores.
Durma e repouse bastante, pois isso beneficia os discos intervertebrais. A posição do corpo durante o dia (de pé ou sentado) pressiona o disco e faz com que a água do seu interior migre para as vértebras. Na posição de sono, a pressão diminui e a água retorna para o corpo, promovendo sua recuperação.
Fonte: Estadao.com.br
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